segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Recordações de Natal

                                            Natal em Coppell - foto por Luis C Nelson

No Natal da minha infância não tinha uma árvore cintilante, carregada de luzinhas-que-piscam, atraentes e frágeis bolinhas coloridas, sininhos de fino cristal, estrelinhas, algodão servindo de neve e demais enfeites...

Mas tinha a alegre bagunça que fazíamos na cozinha, para desespero da minha mãe, no seu esforço e carinho para produzir, mais saborosas que nunca, as rabanadas, as orelhas de abade, a aletria doce, o inesquecivelmente delicioso leite-creme! Quebrávamos e comíamos nozes e amêndoas e, atrevidos, ousávamos enfiar os dedinhos nas tijelinhas onde estavam já cortadas as frutas cristalizadas para o bolo-rei! Ah! Como eu adorava o nosso Natal sem árvore!

Enfim, chegada a noite e a hora da consoada, com todas aquelas incríveis e coloridas gostosuras ali expostas ao regalo dos nossos olhinhos e apetite, não tardava porém muito tempo para que os efeitos da intensa movimentação do dia aflorassem com aquela soneira irresistível à mesa! Meu pai então mandava que vestíssemos os pijamas, escovássemos os dentes e colocássemos, muito alinhadinhos, nossos sapatinhos sobre o fogão, bem no meio da chaminé, para que o Pai Natal pudesse vê-los...

“Acorda, maninha! Acorda, que já é de dia!”, chamava eu em voz sussurrada, enquanto abanava a minha irmã! Ainda ensonada, ela me seguia descendo as escadas até à porta da cozinha, de onde espreitávamos ainda receosos, até confirmar-mos que sim! Pai Natal não nos esqueceu e lá estavam um reluzente automóvel de corda vermelho, um caminhãozinho de madeira, uma boneca grande e linda com cabêlo e uma mobilinha!

As recordações do Natal da minha infância não incluem a árvore, mas contêm a mais pura alegria, doçaria de montão e muito, muito amor no coração...


Originalmente publicado no "Recanto das Letras"

sábado, 17 de dezembro de 2011

Silêncio

                                                            Foto por Luis C Nelson

É tão triste, Cesária...
Tão cedo nos deixaste, Cesária!

Agora, só os anjos ouvem tua voz
e te acompanham extasiados,
com suas harpas douradas...



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Recortes





"Pior que um político, só um político-militar, que por sua vez é superado em estupidez despótica por um político-religioso com poderes militares." 






Em "O Livro do Meu Caos"

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Recortes




"...Ousei até creditar à lusitanidade esta minha tão extremada ligação melancólica com o Mar mas, no momento seguinte, flagrei meu outro eu em expressão de crítica por tal pensar. Agastado, pisei firme no firme chão e diriji um rogo de ajuda, a quem na vida ajuda nunca me recusou..."






Em "O Livro do meu Caos"

Retorno



A sedação, a que chamei de coma induzido, serviu-me para dar um tempo e repensar até onde é válida a continuidade do Blog,  num cenário muito pouco propício para a criação. O resultado nada tem de surpreendente: Se por um lado me tenho sentido "livre", por outro, acabei dando por mim num estranho vazio ou  lacuna que descubro, em pânico, ser ultra permeável a elementos altamente poluidores, tais como TV, por exemplo! Retirei, pois, a sedação. 
A alta da UTI seguir-se-á...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu absurdo



"Vaguear pelo absurdo revitaliza-me, pela via do que de mais absurdo tem a minha absurda alma. 
O absurdo contém doses massivas de ilógico, profilática medicação contra os males da fria lógica que contamina e aflige o meu cotidiano."



Em "O Livro do meu Caos"

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Carolina"

                                            Foto por Luis C Nelson

Após breve embarque no NS "Carolina", nosso gigante perfurador de poços de petróleo que é o mais novo orgulho de todos nós, ocorre-me que há cem anos estava em fase de acabamentos de construção o RMS "Titanic", colosso  insubmersível. A  "Carolina" não tem tal característica, mas certamente que não seria posta a pique por uma qualquer raspada num Iceberg. Tudo cheira a novo e brilha de tão esmeradamente limpo...Brilham também os nossos olhos, perante tanta beleza tecnológica!
Desejo que a nossa "Carolina", gorgeous and hi-maintenance lady,  fure e complete muitos e fenomenais poços, de onde jorrem barris e barris de energia e dinheiro!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sonhos

Os meus sonhos são tão belos quanto a Vênus de Milo...
O que há, é que só eu dou por isso.

Rooo...rooo..rooo...
(meu ronco aqui dentro)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Papo tedioso


 Nada há de tedioso no que faço e de tédio eu não padeço. Mesmo que momentâneamente  não goste do que faço, eu forço-me , acerto passo e acabo pelo que faço tendo apreço... O que há, é que sou eu próprio a razão do meu próprio tédio.

domingo, 23 de outubro de 2011

Luto

Com a família e eu próprio devastados, divago em torno do quão efêmeros somos, criaturas biológicas dependentes de frágeis cadeias de eventos eletro químicos. Escrevi  hora destas no blog da Meg, questionando-me sobre "quantas vezes terei eu, nas doidas 'flanagens' pelo meu impossivel, me visitado na morte" ...
Dessas visitas, ficou-me uma certeza: A morte é a definitiva, verdadeira e única forma de LIBERTAÇÃO!
Todas as outras libertações são fictícias...

"...E aos que vão da Lei da Morte se libertando..." (Camões)

Ao primo Paulo, que tão cedo se libertou

                                *  *  *
Update em 27/10: Um dia passado junto dos arrazados pais do
       Paulo, a  missa de sétimo dia, o chororô pungente e sem fim!...
       Agora, sinto necessidade de falar dos vivos!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Descanse em paz...

Sobre a "Finitude", falei da fatalidade da morte em função de estar vivo, bem como do difícil que é nos resignarmos com a sua chegada. Por mais vivido que se seja, o fim nem para o suicida chega serôdio, pois, dizem, a todo o suicida sobrevem um arrependimento que pode ou não ser tardio...

Hoje, extraí dos retalhos dos arquivos um triste réquiem a um jovem muito jovem que sucumbiu ao sortilégio das armas - maldição precoce de por tão frágil, com elas  achar-se tão poderoso.

Eis que as novas me surpreendem ao chegar a casa agora à noitinha: O Paulo Prazeres, uma das crianças da nossa família que mal tinha completado 41, médico e pai dedicadíssimo de quatro menininhos, não resistiu ao ataque cardíaco e partiu...

O menino

Os pistolões desproporcionais pendiam-lhe de cada lado do cinturão prêto com detalhes prateados sobre o short e iam-lhe até abaixo dos joelhos magros. O boné de policial novaiorquino era-lhe grande e balançava, ridículo, em todas as direções, conforme sua cabeça se movia. Uma enorme gravata de adulto completava o surreal trajar do menino-criança a caminho da escola, acompanhado de sua mamãe que sorria e não via como insano, o look do seu rebento-da-triste-figura ...

O menino dos pistolões cresceu seu estranho crescer, até substituir os pistolões de brinquedo por máquinas de matar autênticas, com as quais continuou a fantasiar seus heróis ou bandidos, heróis- bandidos ícones da sua visceral agressividade.  Até que uma das suas máquinas de matar berrou maldosamente, secamente.

Menino tão cedo armado, cedo foi enterrado, caso encerrado...


Dos meus retalhos

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

La Nave Va...


 Uma semana elapsou-se desde o ultimo post e, devo reconhecer, estou mais que nunca mergulhado no trabalho que pretendia decrescido de forma a permitir-me ler muito e escrever muito mais. Vi e gostei de uma entrevista de  Lobo Antunes na TV, resultando-me vexado por não ter podido até agora ler os livros que adquiri em Lisboa e aos quais já me tinha referido no blog da Cora. Um deles é do próprio Lobo Antunes sobre Egas Moniz, um dos  papas da neurologia da primeira metade do século passado, único Nobel português de ciência. O meu recente envolvimento em mais um projeto, pôs fim a um fértil mas brevíssimo período em que desatei a escrever freneticamente para a colcha de retalhos a que estou chamando de "Livro do meu caos"

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Finitude

Mergulhei a escrever curtos textos e mais textos, como se fossem os ultimos textos dos meus ultimos dias. Que poderão até muito bem ser, posto que estou vivo e pré destinado a morrer. Ah a finitude, de que falou a Meg em um dos seus recentes posts...Filosofica ou humanamente, o certo é que não existem barreiras para o "Pale Horseman", cuja chegada será por mim aceite, com evidente pena e impotente resignação...
Se o cavaleiro mais tempo me conceder, mais serão as páginas e páginas de palavras organizadas em frases, por sua vez  agrupadas em arrazoados reveladores das minhas tumultuadas  e estranhas entranhas...Ou não, sabe-se lá!

Workaholics

O chefe saiu agora da sala trauteando "When somebody loves me, is no good unless she loves me..." e eu fiquei pensando quem poderia se apaixonar por um workaholic empedernido e sem vida própria para chamar de sua. Insisti no pensamento sobre o tema e tremi: Acho que estou ficando igual!...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dos mistérios


Sou portador de uma infinidade de mazelas. Elas, essas mazelas, vão ganhando mais importância na medida do avanço da idade, enquanto outras desconhecidas vão aportando e instalam-se no meu corpo como se posseiros fossem, invadindo e anexando a seu bel prazer, sem que meu corpo reaja.

Ao inchaço da próstata, hipertensão arterial, pulmões bichados e outras maleitas manjadas, junta-se a expansão do abdómen. Sou um barrigudo que não toma cerveja, come moderadamente e não tem preguiça para fazer uma boa caminhada em acelerado... deve haver um mistério que eu não quero desvendar.

É que de outra mazela fui acometido: A covardia!

domingo, 2 de outubro de 2011

Cousas e causos

Foto por Luis C Nelson - Hotel Serra da Estrela, Covilhã, Portugal. De Novembro a Maio, este lugar fica coberto de neve

Como  "Serra da Estrela", até agora e ao vivo,  eu conhecia apenas a cadeia de restaurantes onde costumo deliciar-me com as entradas compostas de pães diferentes e gostosos, excelente presunto e queijo de ovelha curado. Fora do habitual charme  do inverno e da neve, neste Setembro de temperaturas elevadíssimas, subimos a sinuosa estradinha (EN339) partindo da Covilhã até às Penhas da Saúde a 1800m de altitude. Feito o check in no confortável Hotel que leva o nome da serra, chaminhámos 500m até um dos restaurantes típicos da aldeia, enquanto admirávamos um rebanho de ovelhas pastoradas apenas pelos cães! Um dêles, enorme e posando de líder, dominava a cena magestosamente postado sobre uma rocha, de onde latia avisos de que o território ali tinha dono. O restaurante, rústico mas acolhedor, é numa casa de madeira típica da região e estava já com bastantes clientes. Pedi a minha entrada favorita, ao que o atendente esclareceu: "Os pães e o Queijo da Serra, sim; O presunto, não."! E continuou: "Por acaso o senhor avistou algum suíno durante a subida?"...Rendi-me à evidência e registrei que afinal, presunto e outros produtos suínos não têm nada a ver com a Serra da Estrela propriamente dita! Abrimos, pois, a ementa, em cuja primeira página figurava em destaque: Prato do dia: Costeletas de porco.

sábado, 1 de outubro de 2011

Lucubrações

São inúteis e vadias as minhas palavras. Ah como são fúteis e ilógicas as minhas palavras que a  ninguém servem, nada dizem, em nada resultam.Por outro lado, pensando bem, também nenhum mal causam,  porque ninguém as lê! Então que sejam as minhas palavras bem vadias, de rua, dos cais, da zona, do prostíbulo mais promíscuo.

São também inúteis e vadias as palavras do figurão das fantásticas coisas políticas. Ah como são fúteis e ilógicas suas palavras que a ninguém servem, nada dizem, em nada resultam... Ah não! Portarei eu a desgraça de ter algum tipo de propensão para ser um animal político?! Apelo a todas as minhas restantes forças para abandonar o tema. Prefiro então, dizer-me anarquista...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Volta

O prometido não foi cumprido e o blog abandonado juntamente com o Flickr, Olhares e tudo o mais, durante as férias neste Setembro surpreendentemente quente, cansativo, de muitas viagens. Agora,  é o retorno ao trabalho e a esperança de conseguir meios de voltar em um ano, ou mais, preferivelmente num período de temperaturas mais amenas. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Terrinha

                                                       Foto por Luis C Nelson

Abrir a porta, a visão do hall de entrada, a tela de Willard sobre a mesinha, depois explorar o apê, abrir os registros de água e gás...O sentimento é sempre o mesmo, haja a ausência sido de um ano ou de dois: É a vontade de ficar mais tempo para os meus projetos  pessoais, é aquêle "Eu já ficava por aqui mesmo...", a lenga-lenga do costume, até ao dia do regresso que sempre chega tão depressa!


domingo, 28 de agosto de 2011

Pretencioso

                                                   "Cardumes"  Foto por Luis C Nelson

Os dias correm depressa, o meu saldo vai-se escoando. Arroto a sabedoria e experiência que os anos me foram dando, mas acabo por me dar conta de que sempre evacuo um substrato dessa sapiência. Vejo-a debatendo-se, quando puxo a descarga...


Porque me não pertenço
e pertenço não sei a quem
resulto-me um pretenso
não pertencer a ninguém...

domingo, 21 de agosto de 2011

Desembarque

                                                          Foto Luis C Nelson

Barulho e vibração!

está no fim esta missão...

Pra casa vou voltar,

a aeronave está a pousar

deixo os ferros pra trás

se cuida aí, meu rapaz

que a  vida vai continuar

e o trabalho não vai acabar.



Um pensamento para os que perderam a vida no mar, no mesmo momento em que eu pousava em segurança no aeroporto de Navegantes, SC

sábado, 20 de agosto de 2011

Titãs

                                                           Foto Luis C Nelson

Passei a sentir-me meio alien
sobre as estruturas oscilantes
que já foram meu quase lar...
Prometeus acerca-se de mim,
rubra silhueta de homem.
Pergunta-me do meu gozo
em incendiar a escuridão
com as chamas da minha lança
e permanecer a admirar
a obra que é tudo obra
da sua desobediência de Titã
e da minha ousadia de mortal
ao esgrimir espadas de fogo
no meio do poderoso mar;
Sorrio, em resposta...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

De Pessoa para pessoa

Quanto mais me embrenho na leitura, mais me identifico com Pessoa e tudo o que rodeava o seu cotidiano na velha Lisboa. De repente, dou-me conta de realidades do seu dia a dia que atravessaram as décadas e chegaram até ao comecinho da minha juventude portuense nos anos 50! Por exemplo, os cigarros que sorrateiramente eu fumava junto com os colegas  nos intervalos das matinées de Domingo nos cinemas "Batalha" ou no "Carlos Alberto", eram os mesmos "Provisórios"ou "Definitivos" fabricados pela "A Tabaqueira", que Fernando Pessoa queimava sem tragar, em número de até 80 por dia!

Um dia destes escrevi um texto sobre as minhas temporãs  experiências poéticas  para uma menininha da minha idade por quem caí de amores, mas da qual nunca consegui sequer um olhar. No texto eu destaco a minha completa falta de jeito para declamar meus escritos, o que prevalece até hoje, enaltecendo minha admiração  pela fantástica força dramática do incomparável João Villaret, que assisti ao vivo nos idos de 56 ou 57. Pois não é que Villaret é citado por haver dito a  Antônio Botto, que "Pessoa, com aquela voz, nunca seria um ator", enquanto assistiam o poeta a declamar seus versos?!

A verdade, é que a obra de Cavalcanti Filho está mexendo comigo...

Home office


Produzir em casa tarefas de serviço poderá até adicionar um certo stress, pois é necessário garantir e até forçar a apresentação de resultados em todo ou em parte, evitando mal entendidos que não existem quando se está presente nas instalações da firma. No entanto, sabendo-me bastante disciplinado, adoraria ter a oportunidade de fazer isto todos os dias e ir à empresa somente quando necessária a presença em reuniões, etc.!

O dia dos pais serviu para relaxar, caminhar, receber os "parabéns" das meninas que gerei e que tão longe de mim estão. Mergulhei na leitura do livro magnífico de Cavalcanti Filho sobre Fernando Pessoa e, coisa completamente não usual em mim, dormi!!...

sábado, 13 de agosto de 2011

Antecipação

                                                Foto Luis C Nelson

O dia do pai é amanhã, mas a Nina escondeu mal o presente. Presentão, aliás, pois são setecentas e tantas páginas falando do Pessoas! Leitora fiel e silenciosa do blog da Cora, aproveitou a dica de leitura para não ter de perguntar-se o que iria comprar...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Havia...

                                                 Foto Luis C Nelson


...um buraco na trilha. Era grande e escuro, o buraco na trilha. Não havia passagem, porque havia outros buracos ao lado do buraco no meio da trilha. Recuei, tomei impulso, corri, pulei...
Caí dentro do buraco da trilha. Queda flutuada, não vertiginosa, pela escuridão do buraco da trilha.
Minhas gargalhadas eram insanas e ecoavam, ecoavam...
...ecoam, enquanto escovo os dentes e olho a irreal silhueta refletida no espelho. Não parece que seja eu, ou é pelo menos um eu estranhíssimo. No entanto, estou acordado! Ou será que não estou?...
Tento arrumar a bagunça de sons, siglas numeros sem nexo...PNF...PF...TO/GA...447...
Gelei!

domingo, 31 de julho de 2011

O outro lado do amor

Juntam-se os trapos,
Roupas e farrapos,
Revolução no roupeiro!
Duas escovas de dentes,
Mais acessórios e pentes
Dão alegria ao banheiro...

É um “Sei que vou te amar,
Minha vida te dedicar”,
Por entre beijos de paixão!...
Amor explodindo em frenesi,
Corpos suados, fora de si,
Doces delírios em turbilhão...

Pra eternidade é este amor,
Que nada, seja o que for
Será capaz de abalar!
Almas gêmeas que se unem,
Apaixonadas se fundem,
Pra vida inteira enfrentar...

Mas um dia (há sempre um dia)!
Outro alguém rouba a fantasia
Da eternidade desse amor...
Volúveis são os corações,
De curta dura as paixões,
Oh!Perjuras juras de amor!

Depois, é o déjà vu...
É um “Je ne t’aime plus”
Com fria determinação!
Agora me digam, doutores,
Como enfrentar os horrores,
Desses males do coração?



Anteriormente publicado no Recanto das Letras

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aniversário


As estrelinhas nascem com seu curso já determinado. Meus caminhos sempre foram indicados e iluminados pelo brilho de uma dessas estrelinhas.

domingo, 24 de julho de 2011

Minhas várias metades

Metade de mim é tormento
um não sei quê de lamento
na minha alma caldeado...
A outra metade tem ouro
parte de um grande tesouro
que a mim foi confiado...

Metade de mim é nostalgia
que me compele à poesia
em rimas à “sóror saudade”...
A outra metade é ventura
misto de alegria e ternura!
-Será isso “felicidade”?!...

Uma metade de mim é introvertida
enclausurada e encolhida
em momentos de reflexão...
Mas a outra metade é carinho
que cabe bem direitinho
dentro do teu coração...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Divagando



Amor dito "verdadeiro"é uma montanha de difícil acesso; Mas, mais difícil que atingir seu cume, é nele acampar e sobreviver a todas as intempéries, variações abruptas de temperatura, ataques de predadores e fatal atração de corpos celestes que no em torno gravitam...

+++++++++++++++++

Com a idade, queda da líbido é fatal como o destino; É aí que o tal de "Amor" se transforma em estrutura primária: Tudo desabará, se as propriedades resistoras da estrutura não forem capazes de uma resposta adequada.

+++++++++++++++++

É preciso não acreditar demais nos dourados versos de amor do poeta; Como nem tudo o que reluz é ouro, muitos desses versos são para acalmar os ânimos da musa sériamente zangada. Musas são extremamente suscetíveis...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Doce "traição"

Os nós cegos
Que a ti me atam,
Não desatam
Não dilatam...

Se em sonho te "traio",
Afinal eu não te traio
Porque é o teu rosto
Que na fantasia é posto!
E a minha "traição"...
É com teu corpo e teu coração!

domingo, 10 de julho de 2011

Cyclophagus

                           Foto por Luis C Nelson  -  Será um Cyclophagus algo assim?!

Patricia Melo (Cadernos do Ticino) disse ser "imperdível" e eu acabei comprando o livro de Joyce Carol Oates "Wild Nights", versão traduzida para o Brasil por Elisa Nazarian e publicada sob o título "Descanse em Paz" pela Texto Editores de São Paulo. Li de um só fôlego as histórias sobre Poe e Emily Dickinson e parei para voltar ao Farol de Viña del Mar, subir os 190 degraus para acender a lanterna, mas, muito principalmente, para conhecer o aterrorizante "Ciclofagus". Quando me sentir satisfeito, prosseguirei através das histórias escritas sobre Mark Twain, Henry James e Hemingway.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Temo

De repente, de alguma forma, eu sentei num carrossel. Minha cabeça passou a rodopiar, cérebro centrifugado, enquanto um ponto negro foi aumentando de tamanho. Ciclópicas forças chegaram em meu socorro para me agarrar e evitar que eu fosse sugado pelo pavoroso e negro sorvedouro.
Estou acordado e sentado num carro em andamento, mas não dirigido por mim. Abri a janela para ventilar e estou enjoado. Acabo de resistir a um desmaio...Que estará acontecendo comigo?


Temo, Nina, tudo do nada,
pois nada é certo e sabido
a não ser o já percorrido
caminho da vida passada
com tudo do certo e sabido
de coisas boas ou más
que nos hão acontecido
e fomos deixando pra trás...

Mas temo, Nina, a fraqueza
do meu corpo que nada é
do que d'antes era de firmeza
e saude... de ousadia até...
Temo, sim, Nina, não nego,
a velhice que se aproxima.

Só tua companhia me anima
Teu coração, meu aconchego...



domingo, 3 de julho de 2011

Grrrr!@#*

som estridente percussão vozes cantantes etílicas notívagas...sono sono sonho ruim...tropeção palavrão  bexigada mijada...sono sonho ruim tirania tinano...calor noite etílica rebita rebita...mexeram com a dona josefa madia kandimba...água de cu lavado...ah que sono...f*@s da p@*#...minha revolta já está de manhã...

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Naturalmente...


...os cabelos branquearam,
as peles enrugaram,
os órgãos debilitaram-se,
os olhos cansaram-se,
os pés ganharam calosidades
e os ossos, dolorosas deformidades.
Estamos um pouco menos condescendentes
com esse mundo dos tempos presentes,
mas  a paciência não foi esgotada
embora, convenhamos, um nadinha desgastada.

Não obstante, entretanto,
cresceu muito aquele encanto,
da presença que se sente
sem que o outro esteja presente!
É só o telefone tocar,
que vem a ânsia de que seja  o outro a ligar,
porque se não liga, a gente liga,
só pra dizer "eu te amo", e desliga!...
É todo um carinho mais carinho,
é um amar mais de mansinho,
é um cuidado, uma atenção,
um chamego, uma afeição,
que massageia o coração...


Hoje, e em todos os derradeiros derradeiros dias de junho

domingo, 26 de junho de 2011

Improviso

Um dia eu escrevi não sei mais onde: "Improviso-me, porque perdi a partitura com a melodia original e única! ". Como a improvisação é também original e única na medida em que não conseguiria repeti-la, resulta que vou produzindo intrincadas teias de improviso em torno de um tema. O problema é que acabo tendo dificuldade de reencontrar esse tema por entre as teias. O pior,  é que esse tema sou eu próprio!...

sábado, 25 de junho de 2011

"Utopia"


Sem nenhum objetivo definido, entrei em arquivos de textos há muito esquecidos e acabei por deter-me em uma fase ao mesmo tempo dramática e divertida. Eu  "abri ao público" um restaurante virtual denominado "Utopia", onde servia uma diversidade de pratos de um cardápio com os "Sabores da Colônia - do Brasil a Goa", ao mesmo tempo em que colocava nas mesas conceitos muito pessoais de filosofia de vida, dos quais, não raramente, saía sangrando e à procura de curativo. Por resultado de um desses ferimentos, eu escrevi:

"Ofegante, entro no espaço carregando o meu coração de braçado, feito uma mala sem alça, desabando a cada pequena emoção ou desagrado que pinte aqui ou alí...não por acaso, aqui mesmo neste nosso universo... conflito e colisão dos meus visionários desejos. Mirabolantes, explicitos, lindos, mas utópicos desejos.

Coração gozado este meu coração estupidamente mole e otário ao ponto de insistir em apalpar a escuridão do silêncio buscando respostas, acreditando piamente em estórias de fadas, príncipes e lindas princesinhas espalhando perfumadas rosas sem espinhos ao longo do meu espiritual caminho...

Antes que eu saia por aí relinchando e tenha de consultar um veterinário, vou sentar nesta mesa e tomar um bom lusitano vinho. Em seguida, vou  refugiar-me na Pasárgada, com licencinha do poeta..."

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Moldura

                                          Foto por Luis C Nelson

Dei-me conta que o meu olhar penetra e passa para além das cores vivas da tela do Willard, buscando no infinito o tema que teima em se afastar de mim. Então tá, tema teimoso. Eu te abandono e recuo o meu olhar para a moldura da tela do Willard. A moldura é bonita: Tem um friso negro no meio dos dourados artificialmente envelhecidos. Depois tem faixas brancas e frisos dourados até que a moldura finalmente revela a bela obra do Willard, a qual cansei de contemplar desde aquela noite de 1991, quando a adquiri das mãos do próprio artista. Como pude, durante 20 anos de contemplação, não haver dedicado uns míseros minutos à arte do caixilheiro que fez a moldura?!...

sábado, 18 de junho de 2011

Lugre

                                           Foto muito antiga do "Ana Maria"

Apertei o último botão da “samarra” e dobrei o grande colarinho forrado de pele de carneiro de forma a proteger o pescoço e os ouvidos do penetrante vento gelado que fazia sentir-me miserável e indefeso, mas ali estava eu estendido de costas sobre o madeirame do convés que ainda fedia a estopa e piche da meticulosa calafetagem a que havia sido submetido no estaleiro.

Encoberto pelos dóris encastelados e já peados para a grande e aventurosa viagem, eu me perdi em pensamentos observando a magestosa mastreação apontando o céu, identificava as retrancas, as caranguejas, os gurupés e via as nuvens passando baixas dando-me uma sensação de movimento e propelindo minha imaginação para a experiência de estar navegando, navegando mar afora à aventura da vida, à aventura dos meus sonhos com os pescadores mais valentes da Terra Nova!...

Subitamente, uma pesada manápula fechou suas garras em torno do meu braço esquerdo com tamanha força e a dor foi tão lancinante, que gritei achando que haviam esmagado meus ossos!
“Anda cá, meu bandidinho, que vais sair daqui preso para a tutoria”, berrava o monstruoso contramestre cuspindo milhões de perdigotos no meu rosto! E lá fui eu arrastado convés afora até uma gaiúta à prôa, forçado pelas estreitas escadas abaixo até à câmara dos oficiais.

A câmara era um conforto só e estava quentinha para que os principes do mar e suas convidadas esquecessem as agruras da friagem externa, enquanto conversavam e sorviam vagarosamente seu chá, mordiscavam biscoitinhos recobertos de chocolate e tomavam licores reservados às divindades!
“Encontrei este miúdo escondido entre os dóris, senhor capitão! Penso que se preparava para sair conosco para o mar como já aconteceu com outro na viagem anterior...”
O velho comandante fixou seus olhos em mim e perguntou: “Que idade tens tu, meu rapaz?” E continuou: “Quem te trouxe para bordo?”

Procurei coragem no olhar misericordioso da linda e distinta senhora à minha frente, enquanto declarava que iria completar treze anos e que pagara vinte e cinco tostões ao chateiro para me trazer à borda e me levar de volta quando eu fizesse sinal, que não havia ninguém no portaló na hora que entrei e que não tinha nenhuma intenção de ficar para sair com o navio!

Uma chalupa do “Ana Maria” devolveu-me a terra depois de muitas desculpas e, enquanto saboreava lentamente o chocolate oferecido pela formosa e distinta dama, voltei-me admirando orgulhoso o magnifico lugre, último dos grandes bacalhoeiros a navegar exclusivamente à vela e que, um ano depois, desapareceria nas águas geladas da Terra Nova!


Publicado originalmente em Mukandas do Nelsinho - Primeira Versão

domingo, 12 de junho de 2011

À minha namorada

                                            "My Love" - Foto Luis C Nelson


Ausentes estiveram as rosas, neste dia,
mas os espinhos também...

É verdade que me faltou olfato
pra sentir o teu cheirinho,

mas a gripe não me impediu
de sentir  o teu calorzinho...

domingo, 5 de junho de 2011

Serei eu um homem comum?

Tenho a impressão que plagio um outro eu...
...e que sou uma grosseira fraude de mim próprio.
Não me domino e não percorro sem percalços
os labirintos da minha alma,
que julguei haver conquistado e anexado.

                ++++++

"...escuto a música límpida de Peter Gast
Rosa do Crepúsculo de Veneza
aqui mesmo no samba-canção
do meu rock'n'roll
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Sou um homem comum..."
(Caetano)

sábado, 4 de junho de 2011

Diz-me

Diz-me, ó vento passageiro
p'ronde vais com tanta pressa...
Decerto é lugar bem maneiro,
d'alegria o tempo inteiro
e com felicidade à beça!

Diz-me rio caudaloso
p'ronde vais em corredeiras...
Decerto p'rum estuário gostoso
onde calmo e langoroso
te espraias em regaleiras!
Diz-me, meu EU tão lanceiro
P'ronde vais em tal trotar!...
Decerto que aventureiro,
enfrentas o risco inteiro
pros ganhos justificar

Diz-me, minh`alma aberta
qual é a trilha e a hora certa
pra parar e descansar,
Antes que seja o terreiro
que me acolha o corpo inteiro
p'r ad eternum repousar...


Publicado anteriormente
no Recanto das Letras

domingo, 22 de maio de 2011

DSK

                                           Pinched from the Net

Sinto uma profunda pena desse ex-todo-poderoso das finanças, que de possivel presidente da França caíu em miserável inferno astral, chafurdando na lama pegajosa e de impossível remoção, que é ser acusado de "estupro" nos states...
Foi patético, ver aquele homem, na sua terceira idade, desfilar de pulsos amarrados, exposto à execração pública como se de perigosíssimo assassino se tratasse! Como não consegui encontrar detalhes nem relatórios do CSI que me provem que houve ataque realmente violentador, prefiro manter toda a desconfiança que sinto pelo pavoroso sistema estadunidense.

sábado, 14 de maio de 2011

Miseranda política

Reler  "Uma Campanha Alegre" de Eça de Queiróz, é um exercício de comparação e de conclusões nadica de nada abonadoras da classe política,não importa lugar ou época!
Carreirismo, partidarismo oportunista e falta pura e simples de maneiras não mudaram desde então; Os mesmos personagens se revezam no poleiro, com os momentâneamente fora do poleiro insultando os momentâneamente  empoleirados. É a lógica da calúnia embutida numa bola de tênis, numa quadra opondo jogadores governistas e não-governistas.
De resto, continua tudo como d'antes: O vinho novo é colocado em odres podres e apodrece por seu turno; Interesses escusos e pessoais sobrepõem-se aos interesses soberanos da Nação e dos cidadãos através de tenebrosas transações, lesivos lobbies... São afinal democracias, ou cleptocráticas ditaduras parlamentares?

sábado, 7 de maio de 2011

(A)nexo

Faltam-me palavras para exprimir meus pensamentos,
ou faltam-me pensamentos para exprimir com palavras?
Vai ver então que me confundo ao gerar pensamentos
e por isso as palavras me saem confusas e sem nexo...

Por  falar em nexo, acabo de invadir a minha alma!
Sim, fiz uma anexação à moda das velhas potências coloniais
e juntei o territória da alma, ao meu próprio território...
...agora, só preciso de esperar reconhecimento,
para considerá-la  minha  e  governá-la.

Prosseguir

                                          Foto por Luis C Nelson

É curta e cruel, a vida.
Ainda assim, eu gosto dela,
da vida, mesmo curta e cruel como ela é tida e sabida

Por entre os ferros que me dão o sustento,
encontro, não raramente, razões para desistir.
Mas sempre procuro e arranjo alento
para de alguma forma mitigar o tormento
porque é preciso prosseguir, prosseguir...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O cravo é...

...para o meu olfato, inodor.

Update:

Ah!...a fragrância do cravo!
Ao meu sentido ela é inodor,
que rima com dor...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páscoa

                                           Foto por Luis C Nelson


Dia lindo, de céu azul, quente mas ainda não em demasia, convidando para uma deliciosa caminhada pelo calçadão de Icaraí até à subida da Estrada Fróes. As recordações de infância ligadas à Páscoa, foram tema da nossa conversa enquanto caminhávamos. Falamos das delicias que eram preparadas para as visitas pascais e também dos odiosos preconceitos contra as familias não-alinhadas com "os principios morais" da Igreja. Adorei recordar em voz alta a minha boqueaberta admiração por um dos músicos da banda da terra, durante uma Missa de Sexta Feira da Paixão, cantando magistralmente alguns excertos maravilhosos de uma obra que depois me informaram ser da Missa de Réquiem de Mozart! De repente, os anos 50 do século passado estavam perturbadoramente presentes! Enfim, gostei muito desta manhã de Sexta Feira Santa!...

domingo, 17 de abril de 2011

Bem Haja...

                                          Foto por Luis C Nelson

... Orquestra Barroca da UNIRIO, pelo inesquecível e emocionante Concerto desta manhã na Igreja de Santa Cruz dos Militares! A musica maravilhosa dos Mestres Barrocos, adquire sonoridade celestial no ambiente arquitetônico da Igreja, irrepreensivelmente conservada e embelezada! Laura Rónai, todos os músicos e cantores, valem seu peso em ouro e brilhantes!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mea culpa(?)


Às vezes me sinto culpado,
sem saber do quê eu sou culpado
e procuro, aflito, uma explicação...
Fica um peso no meu peito
que deveras pega de jeito
meu problemático coração...

Basta se pessoa tida como amiga
de repente simplesmente desliga
deixando-me assim consternado!
Questiono-me se a terei ofendido,
com algo escrito que a haja ferido,
ou ponto de vista mal interpretado...

domingo, 10 de abril de 2011

Crude wars



Tendo a alhear-me dos acontecimentos, porque eles nada trazem de novo
a não ser o déjà vue das fantásticas e nefastas coisas políticas,
com sua retórica de mentiras verdadeiras e verdades mentirosas.

O mundo árabe convulciona-se para trocar seus ditadores por outros ainda piores e a Europa trata de jogar suas fichas (explosivas) na roleta do poder líbio, esperando garantir a abertura de torrentes de petróleo e concomitante fechamento de torrentes de refugiados...

sábado, 9 de abril de 2011

Singapura!

                                          Foto por Luis C Nelson


O Globo Reporter de ontem reacendeu os meus sonhos de, por algum tipo de milagre, achar-me, felicíssimo e aposentado, na maravilhosa e inesquecível cidade de Singapura, onde morei por quase dois anos e da qual tão sentidamente me despedi à partida.

Pelas imagens transmitidas, tudo continua lindo, limpo, organizado, seguríssimo porque severamente disciplinado, exatamente como é do meu gosto! Adorei o programa, embora curto demais para que as pessoas possam ter uma real idéia do que é, em todos os os sentidos, aquela terra de superlativos!

Senti vontade de bradar: "MAJULAH SINGAPURA!". Ah!...SINGAPURA com S, como é em bom Malaio, como é em bom e legítimo português. "C"ingapura é erro ortográfico crasso e de palmatória, agora definitivamente confirmado nos acordos acabados de entrar em vigor.