quinta-feira, 7 de julho de 2011

Temo

De repente, de alguma forma, eu sentei num carrossel. Minha cabeça passou a rodopiar, cérebro centrifugado, enquanto um ponto negro foi aumentando de tamanho. Ciclópicas forças chegaram em meu socorro para me agarrar e evitar que eu fosse sugado pelo pavoroso e negro sorvedouro.
Estou acordado e sentado num carro em andamento, mas não dirigido por mim. Abri a janela para ventilar e estou enjoado. Acabo de resistir a um desmaio...Que estará acontecendo comigo?


Temo, Nina, tudo do nada,
pois nada é certo e sabido
a não ser o já percorrido
caminho da vida passada
com tudo do certo e sabido
de coisas boas ou más
que nos hão acontecido
e fomos deixando pra trás...

Mas temo, Nina, a fraqueza
do meu corpo que nada é
do que d'antes era de firmeza
e saude... de ousadia até...
Temo, sim, Nina, não nego,
a velhice que se aproxima.

Só tua companhia me anima
Teu coração, meu aconchego...



4 comentários:

rose marinho prado disse...

Também tenho andando assim, temendo o meu próprio corpo e suas revoluções do não. O tempo é o mais revolucionário ser. Começo a contar outra história de mim. Outro mim mais envelhecido.
Queria fazer uma organização sem fins lucrativos, o objetivo: protestar contra o envelhecimento.

Gostei do texto, Nelson. Tema e engenho.

Luis C Nelson disse...

Brigado, Rose! Envelhecer, mesmo romanceando em prosa e verso, não é de fato muito fácil.

Anônimo disse...

Para sua reflexão, Nelsinho, o que James Lovelock diz sobre envelhecer e que postei em meu blog em 2007:

"Envelhecer não é tão ruim como às vezes se imagina. Na minha adolescência, eu achava que, na idade atual [Lovelock nasceu em 1919, portanto tinha 87 anos quando publicou o livro em 2006, atualmente tem 92], estaria fraco, deprimido e meio senil. Algumas dessas premonições se concretizaram, mas não todas, e embora eu consiga andar e subir uma encosta leve a seis quilômetros por hora, caminhar nessa velocidade nas montanhas já não é mais possível. Mas aprendi que a vida se renova a cada década. No meu caso, ela reiniciou a cada década a partir dos meus vinte anos. À semelhança da borboleta, os longos anos como larva e, depois, como pupa terminaram, e como disse a poetisa Edna St Vincent Millay:

My candle burns at both ends;
It will not last the night;
But, ah, my foes, and oh, my friends –
It gives a lovely light.*

*Minha vela queima nas duas pontas; / A noite toda não vai durar; / Mas ah, meus inimigos, e oh, meus amigos – / Que bela luz ela dá!"

Texto extraído do livro de James Lovelock, "A vingança de Gaia", p. 53, Ed. Intrínseca, 2006.

Um abraço,
Isabela

Luis C Nelson disse...

Belo comment, Isabela!!
Muito obrigado pela visita!