quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Solitude


                                                                         Foto por Nelsinho

Algum tipo de alegre componente seria, de ordinário, a escolha certa como reação requerida contra a solitude que me esmaga, neste cubículo envidraçado e tão friamente quente. Mas, bluer than the blues, preferi deixar fluir a envolvência e afago  da voz e piano de Norah, que abriu caminho para em seguida, a divina Cesária embalar-me com suas mais belas mornas.

Ocorreu-me que quando a Cesária nos deixou, escrevi uma pequena homenagem dentro do espaço de comentários do blog da querida Cora Rónai, evocando a era em que tomei meu primeiro contato com os cantares de Cabo Verde. Atrevo-me a deixar o mesmo texto neste post:

"À sombra das frondosas árvores e palmeiras do jardim em frente ao mercado municipal, um grupo de caboverdianos posicionou-se estrategicamente em frente ao "Quiosque do Espírito Santo", restaurante-esplanada de odores e sabores inesquecíveis. Eram homens magros, vestiam trajes de linho branco amarrotado e todos usavam chapéus claros. Tinham como instrumentos dois violões, uma rabeca, um cavaquinho e um clarinete. O cantor aparentava ser o mais velho do grupo. Começaram com uma alegre Koladera que atraíu imediatamente a atenção dos frequentadores da esplanada e muitos passantes, entre os quais eu me encontrava. Depois, e durante cerca de uma hora, os corações vulneráveis foram atravessados pela torrente de suave fluxo daquela singela melodia, do cantar triste em dizeres crioulos de amor e saudade, dramatizado pelo lamento da rabeca. Pela voz e instrumentos dessa manhã, as notas de "Xandinha" instalaram-se na minha memória de forma indelével e fizeram de mim um apaixonado pelas mornas de Cabo Verde. Eu completara 16 e a Cesária, com 19 lá no seu Mindelo, nem sonhava que tomaria o planeta com seu cantar..".

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